Redação: Vitor Kellner / Produção: @rsesporte_com / Fotos: Google Imagens
Em pleno século XXI, os gaúchos são vitimas de racismo por parte
das torcidas de futebol, ainda em janeiro na estreia do Cruzeiro na Copa
Libertadores 2014 o meio-campo gaúcho Tinga sofreu com o racismo da torcida do
Real Garcilaso, nesta quarta-feira quem sofreu com os atos racistas da torcida
do Esportivo foi o árbitro Márcio Chagas da Silva.
Após o término da partida entre Esportivo e Veranópolis
nesta quarta-feira, o árbitro Márcio Chagas da Silva se dirigiu até o
estacionamento do estádio Montanha dos Vinhedos chegando lá e se deparou com a
lataria do carro (Pegeout 207 preto) batida, arranhada, e com bananas sobre ele:
“O carro foi amassado, riscado, pedalado, jogaram banana no cano de
descarga, por cima do carro. Fizeram tudo isso, insultos racistas. Foram
torcedores do Esportivo”, explicou o árbitro ao Jornal Zero Hora. Márcio registrou
em fotos o ato de racismo e em entrevista à Rádio Guaíba descreveu o ato: “Quando entrei
no campo de jogo, já escutei palavras racistas da torcida do Esportivo em
relação a minha pessoa, me chamando de ‘macaco’. Ao término da partida, fui
pegar o carro no estacionamento do clube e me deparei com o veículo cheio de
bananas, por cima e no cano de descarga do veículo. Além disso, tinha
arranhões, batidas e partes amassadas”.
Em e-mail enviado aos seus amigos, Márcio Chagas explicou
como ocorreu o ato racista: “Ontem à noite (quarta-feira) fui recebido de forma
hostil, algo que não é novidade, mas também com insultos racistas desde a
entrada em campo (...). Fui chamado por parte de torcedores do Esportivo com as
seguintes palavras: "Macaco safado ladrão, volta para selva negro
imundo". Além destes elogios todos, meu carro foi amassado a pontapés nas
portas e arranhado com algum objeto contundente, sendo que colocaram bananas
por cima do carro e no cano de escapamento (...) Fica o triste registro do
ocorrido! Márcio Chagas”.
O árbitro lembrou que em 2005 também sofreu com xingamentos
racistas do técnico Danilo Mior, do Encantado em partida contra o Caxias
no Centenário, o treinador chegou a chamá-lo de "negrão
coitado": “Esses casos acontecem sempre na Serra. É muito difícil
trabalhar lá” e completou: “Pensei: não quero que meu filho sofra o mesmo daqui
a 10 anos. Eu pensei em parar de apitar . Qual o mundo que o meu filho
vai encontrar? Não sou eu o errado. Decidi desabafar, é a melhor forma de
ajudar Miguel”.
Punição do Esportivo
Alberto Franco, procurador do TJD, afirmou que após a
publicação da súmula, será pedido a perda de pontos conquistados pelo Esportivo
na partida contra o Veranópolis: “Estou esperando ser publicada a súmula, ver o
que consta na súmula. Mas o que consta na imprensa já dá indícios para
denunciar o clube no artigo 243-g parágrafo 1º do Código Brasileiro de Justiça
Desportiva, sobre racismo. Quando praticada por um considerado número de
pessoas, o clube pode perder os pontos de uma vitória, nesse caso, os três
pontos da partida. Vou pedir isso. Pelo relato do árbitro, o acesso foi a um
local restrito, passaram o jogo inteiro xingando ele com ofensas racistas. Devo
encaminhar a denúncia assim que tiver a súmula. O pessoal da federação está
tentando contato com ele, mas não está atendendo” e enfatizou: “Isso é
inaceitável hoje em dia. Não há como praticar qualquer esporte com esse tipo de
atitude. Nem por parte de ninguém. Eu fiquei muito entristecido ouvindo a
entrevista na Gaúcha, foi deprimente”.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente da FGF, Francisco
Noveletto disse que Federação pode apenas encaminhar o caso ao Tribunal
de Justiça Desportiva (TJD), o que será feito: “A Federação não pode fazer
nada. Isso agora é com o TJD” e disse que lamenta o ocoriddo: “Eu lamento,
porque o presidente do Esportivo, o Luís Oselame, é um gentleman, uma
pessoa educada, assim como o Márcio Chagas. E então
agora ele vai sofrer o pênalti, vai se incomodar por causa de
meia dúzia. Nunca houve esse tipo de problema lá em Bento. São quatro, cinco
arruaceiros que provocam este tipo de episódio”.
Do outro lado da história, o presidente do Esportivo, o Luís
Oselame disse que o clube irá se defender: “Vamos tentar nos defender para que
o clube seja o menos penalizado possível”.
Por meio de nota oficial, o Esportivo se pronunciou dizendo
que está investigando o ato de racismo contra o Márcio Chagas: “O CLUBE
ESPORTIVO BENTO GONÇALVES vem a público informar que está investigando as
atitudes relatadas pelo árbitro MÁRCIO CHAGAS DA SILVA, que no dia 05 de março
de 2014 alegou ter recebido ofensas racistas durante a partida ocorrida contra
a equipe do Veranópolis Esporte Clube. De pronto, cumpre destacar que, caso
tenham ocorridos tais situações, o ESPORTIVO não medirá esforços para encontrar
os causadores dessas ofensas”, leia a nota na íntegra no site
do Esportivo.
Também por na oficial, o Sindicato dos Árbitros de futebol
do Rio Grande do Sul repudiou o ato de racismo: “ Aliás, em respeito a
esmagadora parcela sadia do público que ama o futebol, não é correto
chamá-los de torcedores, mas sim de racistas, intolerantes, anti-sociais,
indivíduos desqualificados para viver em uma sociedade racialmente plural como
é a brasileira. O SAFERGS confia que providências enérgicas serão adotadas
pelos dirigentes do futebol gaúcho, bem como por parte do Ministério Público
Estadual, para que estes indivíduos preconceituosos sejam identificados e
severamente punidos na forma da lei. Ao companheiro Márcio Chagas, um amigo
leal e um profissional sempre correto integro e competente, manifestamos nosso
total apoio e solidariedade”, leia a nota completa no site da SAFERGS.
A pena máxima para casos de racismo em estádio é a perda de 3
pontos e multa de R$ 100 mil, dependendo do que for relatado em súmula pelo
árbitro.
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