Redação: Régis Fernando / Produção: @rsesporte_com / Fotos: Google Imagens
É possível imaginar uma Copa do Mundo sem os atletas negros? Pasmem: isso poderá ocorrer em apenas 4 anos.
E o grande motivo são os contumazes atos racistas da torcida russa em partidas de futebol, país que será sede da próxima Copa do Mundo, em 2018.
Infelizmente, o apupo da torcida contra jogadores negros tem virado uma cena comum em jogos, principalmente, no leste europeu e agora na América do Sul. Dentre outras barbáries, os gritos imitando macacos e, inclusive, o arremesso de bananas nos jogadores são atitudes que tem chocado aos que acompanham o esporte mais de perto.
Tais atos tem se espalhado pelo mundo inteiro, e tem mostrado que chegou a hora de um debate, a fim de por um ponto final no preconceito racial no esporte.
Entretanto, de forma alheia aos acontecimentos, a FIFA não toma qualquer tipo de atitude para no mínimo coibir, ou pelo menos amenizar, esse cenário que, de forma alguma, deve ser aceito como “comum”.
Diversos jogadores já sofreram este tipo de agressão. Prince Boateng, por exemplo, em um amistoso na Itália, quando defendia o Milan, sofreu com a torcida imitando macacos toda vez que tocava na bola. Outro exemplo foi o de Roberto Carlos, que jogando pelo Anzhi, em uma partida na Rússia, recebeu uma chuvarada de bananas na cabeça. Contudo, foi o ocorrido com Yaya Touré, jogador de Gana, desencadeou a situação de revolta, e recentemente o jogador Paulo Cesar Tinga, ex-Grêmio e ex-Internacional, sofreu também com a torcida adversário imitando macacos quando ele estava com a bola.
Ironicamente, quando a UEFA instituiu a campanha “Semana de Ação do Futebol Contra o Racismo na Europa”, o jogador Yaya Touré foi vítima de racismo na partida entre Manchester City e CSKA, na Rússia.
Já a CONMEBOL que é conhecida pela não punição, sequer faz campanhas contra o racismo, ocorre que dessa vez a repercussão o dos atos racistas na partida entre Cruzeiro e Real Garcilaso tiveram uma abrangência mundial.
Para fazer eco ao levante contra o racismo, a presidente Dilma também mostrou sua indignação, inclusive cobrando da FIFA que seja realizada campanha contra o racismo na Copa do Mundo no Brasil.
No caso Touré, que pela primeira vez um jogador de futebol negro resolveu não se calar, e soltou um grito liberdade. Yaya Touré foi à imprensa e em entrevista ao Daily Mail desabafou: “é um problema real aqui, algo que acontece o tempo todo, e é claro que eles precisam resolver o problema antes da Copa do Mundo. Caso contrário, se não tivermos confiança para ir à Copa do Mundo na Rússia, nós não iremos”.
Já Tinga em entrevista a TV Globo Minas disse: “Eu queria, se pudesse, não ganhar nada e ganhar esse titulo contra o preconceito, trocava todos os meus títulos pela igualdade em todas as áreas”.
É inacreditável que ainda hoje os jogadores negros sejam vítimas do preconceito e que, por vezes, sofrem as mesmas torturas no futebol que sofriam em tempos de escravidão.
O desporto, por sua essência, além de proporcionar equilíbrio à saúde e entretenimento, sempre teve a especial característica de objetivar a interação entre os diversos povos e culturas, por meio de uma paixão comum. Mesmo o futebol de alto nível e a Copa do Mundo têm essa característica bastante clara. Logicamente que o lucro sempre esteve de mãos dadas com esse discurso, mas é inegável que, de certa forma, os grandes eventos desportivos sempre propiciaram essa interação entre as culturas e etnias.
É estarrecedor que a entidade maior do futebol mundial feche os olhos para os atos de racismo que se repetem. A FIFA está deixando e muito a desejar no quesito punir e coibir o racismo no futebol. Por mais que faça vez ou outra alguma campanha contra o racismo, são necessárias atitudes mais drásticas para que a situação não fuja do controle.
Esse posicionamento firme que falta em relação aos atos de racismo, sobra no que diz respeito ao vandalismo e violência das torcidas. Lembrem que certa vez a Inglaterra ficou sem jogar o mundial em razão de sua torcida violenta, episódio em que a UEFA foi severa e puniu de forma correta. Em contrapartida, quando o assunto é racismo, tanto a UEFA e CONMEBOL quanto a FIFA não tem essa mesma energia de punir.
Será que FIFA CONMEBOL e UEFA não veem o racismo como uma violência?
Após o desabafo de Touré e Tinga, acendeu uma luz amarela para a UEFA, CONMEBOL e principalmente para a FIFA, pois é impossível imaginar uma Copa do Mundo sem os atletas negros.
A UEFA aplicou uma punição ao CSKA, a de jogar com seu estádio parcialmente fechado, mas convenhamos que ela é branda demais frente a gravidade da situação.
Enquanto a CONMEBOL está abrindo um investigação sobre o caso, e que dificilmente terá alguma punição severa.
Além da UEFA, CONMEBOL e da FIFA, os países ligados a essas entidades também devem ser mais severos e criar mecanismos jurídicos que sejam eficazes para a punição dos torcedores que praticam atos racistas.
Talvez a FIFA não estivesse sendo mais enérgica por conta de interesses pessoais de seu atual presidente, que poderia, quem sabe, perder muitos votos com punições severas antes das próximas eleições.
Só que diante de tamanha inércia, veio o grito de basta: Touré soube atacar o ponto fraco da FIFA: a Copa do Mundo. A inércia da FIFA, agora, pode por em risco o seu evento de maior lucratividade.
Ainda é muito cedo para dimensionar o que ocorrerá daqui a 4 anos, mas não se visualizam grandes mudanças ao atual quadro, por diversas questões, e uma delas é a questão cultural.
Na Rússia essas cenas de racismo são comuns, e não serão mudadas em 4 anos, porém, se houver uma punição efetiva no âmbito desportivo, possivelmente tais atos possam ser expressivamente reduzidos.
Na América do Sul, também tem sido recorrente cenas de racismo, mas o que aconteceu no Peru nessa semana na partida entre Cruzeiro e Real Garcilaso foi o estopim para desencadear toda essa indignação.
A CONMEBOL tem mecanismos para punir o Real Garcilaso, mas dificilmente Tribunal Disciplinar da CONMEBOL irá aplicar a pena máxima do art.12 do Código Disciplinar.
O artigo 12 do Código Disciplinar tem o seguinte texto:
Artículo 12. Discriminación y comportamientos similares
1. Cualquier persona que insulte o atente contra la dignidad humana de otra persona o grupo de personas, por cualquier medio, por motivos de color de piel, raza, etnia, idioma, credo u origen será suspendida por un mínimo de cinco partidos o por un periodo de tiempo específico.
2. Cualquier asociación miembro o club cuyos aficionados incurran en los comportamientos descritos en el apartado anterior será sancionados con una multa de al menos USD 3.000.
3. Si las circunstancias particulares de un caso lo requieren, el órgano disciplinario competente podrá imponer sanciones adicionales a la asociación miembro o al club responsable, como jugar uno o más partidos a puerta cerrada, la prohibición de jugar un partido en un estadio determinado, la concesión de la victoria del encuentro por el resultado que se considere, la deducción de puntos o la descalificación de la competición.
4. Se prohíbe cualquier forma de propaganda de ideología extremista antes, durante y después del partido. A los infractores de esta disposición les serán de aplicación las sanciones previstas en los apartados 1 a 3 de este mismo artículo.
A pena é branda para o discriminação, pois é prevê o pagamento de multa ou jogar com os portões fechados, e não há de se considerar isso uma punição para um ato tão grave.
Se a própria UEFA não aplica pena máxima para os casos de racismo, a CONMEBOL não o fará, ainda mais excluir um clube da sua principal competição. Até menos por não existir previsão legal para isso.
Ainda está a grande semântica e o problema, mecanismos disciplinares e legais existem, ocorre que eles não são aplicados, nem pela FIFA, UEFA ou CONMEBOL.
Jamais as entidades reguladoras do futebol excluíram um clube ou país de suas competições por racismo. Não estaria na hora de isso ocorrer? Agora é o momento de ter-se o grande exemplo punitivo.
Percebe-se um cenário delicado, onde as entidades organizadoras das grandes competições não têm atuado com maior vigor, principalmente no tema racismo.
E para que exista uma mudança, além da punição, que coíbe o ato já praticado, deve-se iniciar um debate serio acerca do tema, com o real objetivo de acabar com o racismo no futebol.
Esses próximos 4 anos serão imprescindíveis para que a FIFA reaja contra o racismo no futebol a fim de que tenhamos um Mundial seguro, tanto para os jogadores quanto para os torcedores negros.
Ótimo texto, ontem no programa Bem Amigos do Sportv isso foi abordado também, um detalhe sobre o caso Tinga o maior idolo do futebol deles Cubillas e negro.
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